EXTERIOR - WALY SALOMÃO

     

   Por que a poesia tem que se confinar?
   às paredes de dentro da vulva do poema?
   Por que proibir à poesia
   estourar os limites do grelo
   da greta
   da gruta
   e se espraiar além da grade
   do sol nascido quadrado?

   Por que a poesia tem que se sustentar
   de pé, cartesiana milícia enfileirada,
   obediente filha da pauta?
   Por que a poesia não pode ficar de quatro
   e se agachar e se esgueirar
   para gozar
   – carpe diem! –
   fora da zona da página?

   Por que a poesia de rabo preso
   sem poder se operar
   e, operada,
   polimórfica e perversa,
   não pode travestir-se
   com os clitóris e balangandãs da lira?



     Grafite de Mirs

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