MEMÓRIA - MARIO CASARTELLI


    
   Porque ao riscar o pó da mesa com o dedo
   te recordei no vazio dessa tarde
   e pude ver tuas mãos carcomidas 
   pelo esquecer do tempo, 
   saí sobre a febre de homens e bozinas, 
   sobre as ruas que já não te conhecem. 
   E não senti os ramos do parque soando sob meus passos. 
   nem a tristeza profunda dos cachorros, 
   nem a algazarra de crianças que passou por meus ouvidos
   e busquei um bar vazio 
   para me sentar sozinho, 
   e nada me importou a garoa atrás da janela
   e fui à orla caminhar os matos e as poças, 
   e quando ergui os olhos para a noite
   para dobrar meu rosto em teu peito, 
   para te abraçar, pai, 
   como beijei tão só a face de tua ausência, 
   sobre o vasto silencio de uma pedra, 
   parado, ante a chuva, comecei a chorar-te.



  Grafite de Paulo Itu 

   








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