DESPERTAR - CARLOS PELLICER

         


Despertei e as coisas já não estavam

como quando me pertenciam.

O vento da noite

e a cinza começaram a cair.

Gritei dentro de mim sem que me ouvisse

o sangue que passava.

Apenas nos subúrbios de um pulmão

responderam a meu grito.

O coração marchava sem saber para onde.

Era outra vez a solidão

com a mão estendida e os olhos abertos.

Era a música destruída

no rincão de um conto

em que toda proposta

se foi sozinha apenas se diluindo

sem que ninguém a visse,

sem que ninguém soubesse,

sem que ninguém vivesse,

e a deixar-me nos olhos da noite

como algo antigo que não conseguiu ser.


 





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