REVISÃO MATINAL - MÁXIMO SIMPSON

 

Me olho, me escuto esta manhã,

reviso a sola de meus sonhos,

examino meu olvido,

observo meus quem-sabe, os até-quando.

De costas, de frente, desde abaixo,

averiguo o avesso, a contra-senha;

repasso o rancor,

o adversário que eu sustento

e se está apresentável minha agonia,

bem passada a calça,

muito claro o céu,

ponho-me ao transluz para fitar-me,

e escuto minha voz como a de um estranho,

um remoto tambor fazendo alarido.

E se tudo está em ordem,

se meu terno, a cor, os territórios

de penumbra que arrasto,

é quando me decido:

devo ir ao trabalho, estar ausente.

Mas antes de sair é necessário

vestir a gravata,

fazer acenos, estar contente,

e retirar do guarda-roupa o colarinho branco,

minha grande desesperança engomada.

Grafite de Juan Iesari


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